Os anos da loucura em Arouca
Os anos 80 e 90 são os anos da loucura, de um novo mundo de oportunidades. São por norma, anos que apelam à nostalgia e à saudade e só o são, porque são hoje adultos, os que na época eram jovens efusivos, entusiastas e quase "sem lei". Hoje, ouve-se dizer que "antigamente é que eram bons tempos", sem se perceber se era porque havia mais criatividade e liberdade (tantas vezes utópica) ou porque o ser humano é um eterno inconformado e só "está bem onde não está".
No mundo, nesta época, o muro de Berlim deixava de dividir a cidade, o país e as famílias. Os Estados Unidos da América continuavam a ser a terra das grandes oportunidades onde, na música ecoava o We are the world, num projeto idealizado para acabar com a fome no continente africano.
O país lusitano tinha acordado há pouco da escuridão do regime de Salazar, embora tivesse ainda pouca noção do que se passava, do que podia ser dito ou feito. Viviam-se momentos áureos nas mais entusiasmantes eleições presidenciais de sempre, disputadas por Mário Soares e Freitas do Amaral. A vitória foi do socialista que assinou a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, fazendo jus à música do Grupo Novo Norte (GNR) que dizia "Quero ver Portugal na CEE".
Na música, António Variações surgia controverso, vítima dos olhares reprovadores de uma sociedade ainda muito conservadora.
O consumismo começou a ser uma realidade com o surgimento do cartão de crédito e a vida boémia rapidamente se instalou nas grandes cidades e aos poucos nos meios rurais. Os bigodes, nos senhores e os penteados vistosos, nas senhoras são também marcas desta época.
Nos anos 90, "O Bicho" pegou e os Excesso eram a primeira boysband portuguesa a mover multidões para os seus concertos.
Em Arouca a história não foi diferente, embora a informação ainda demorasse a chegar ao interior do país, a verdade é que nos anos 80 e 90 já existiam em Arouca espaços de diversão noturna, quer no centro da vila com o Oásis, a STOP e a Zénite, quer em Santa Eulália com a Discoteca Salamaleque.
Da loucura dos anos 80 e 90 para os dias de hoje, onde a informação chega num click, muita coisa mudou. Só não mudou o saudosismo (tão português) e a nostalgia pelos tempos de vida boémia dos jovens de então.
"O principal objetivo do Madness é fazer as pessoas felizes e ficar feliz com isso". Quem o diz é o mentor deste projeto em Arouca, Fábio Brandão.
Neste sentido, este jovem, nascido nos anos 80, decidiu trazer para Arouca uma dinâmica que se tem proliferado um pouco por todo o país. Neste evento que diz ser "mais do que uma festa, um reencontro de gerações", colaboram empresas da região, fomentando o trabalho em rede, divulgando o tecido empresarial e comercial, e fazendo um evento com os recursos de Arouca.
Além disso, o Madness from the 80s| 90s, tem ainda uma dinâmica social associada, ajudando instituições do concelho de Arouca.
Em 2018, na segunda edição do evento que, pelo conteúdo se tem afastado do conceito de discoteca e de vida boémia e assumindo-se como um evento cultural e social, parte da receita reverteu a favor do Lar de Infância e Juventude do Centro Social e Paroquial do Burgo.
Em Dezembro de 2018, a parceria foi feita com a Associação de Doentes Oncológicos de Arouca. Na quarta edição, em agosto de 2019, a parte social do evento voltou-se para o Centro de Dia do Centro Paroquial e Social do Burgo.
Esta edição, a acontecer a 28 de dezembro, no Pavilhão da Casa do Povo de Arouca, terá como beneficiário o Centro Social de Chave.
Com este evento recuperam-se memórias, encontram-se gerações de avós, pais e filhos e, a cantar, a dançar e no fundo, a viver, deixa-se a vida acontecer.