CCRD de Santa Maria do Monte: do associativismo à preservação da memória coletiva
O Centro Cultural, Recreativo e Desportivo de Santa Maria do Monte nasceu na década de 80, da vontade de um grupo de cidadãos daquele lugar cimeiro da Freguesia de Santa Eulália, com o objetivo de dinamizar diversas atividades, enraizadas na matriz cultural deste lugar, servindo de elemento agregador geracional. As atividades são de caráter essencialmente lúdico-recreativo destinadas aos habitantes do lugar, abrindo-se, no entanto a todos aqueles que se queiram juntar.
O atual presidente da associação é Vítor Tavares que sucedeu a Albino Vieira que foi o primeiro presidente, tendo estado no comando do CCRD mais de 20 anos. Atualmente tem cerca de 80 sócios e o seu património físico é composto pela sede, com um bar/café e um salão multiusos, e um parque de lazer.
Esta associação, com sede no centro do lugar que lhe dá nome, organiza anualmente um leque diversificado de atividades para os seus sócios e para a comunidade em geral, de onde se ressalta o Festival Hípico de Arouca que conta já com oito edições, o Passeio Radical que, na sua segunda edição, em 2017, juntou três modalidades (caminhada, BTT e mini Trail) e os torneios de sueca e de bilhar que juntam, pontualmente ao longo do ano, em verdadeiro espírito de desportivismo e convívio, participantes, do lugar, da freguesia e do concelho.
Além disso, a sede da associação tem sido palco de atividades da responsabilidade de outras entidades do município, como foi o caso do serão "Arouca de Ontem e de Hoje. A terra e as gentes" uma organização do Círculo Cultura e Democracia que reuniu no salão "Teixeira Duarte" algumas individualidades de Arouca e ainda a Oficina de Cozinha Saudável promovida pela ADRIMAG, que teve como anfitrião o Chef Manuel Mendes, sendo apenas dois dos exemplos que provam as estreitas relações entre esta e as demais associações arouquenses.
Para além destas atividades de âmbito recreativo e desportivo, o CCRD tem enorme relevo na esfera cultural desde a criação do Grupo de Cantares há cerca de 23 anos.
A cultura popular assume um papel de enorme importância nas sociedades e, sendo marca indelével da sua identidade, é ela, a cultura, que distingue os povos e os torna únicos.
A importância do património cultural imaterial está nos valores que lhe estão adjacentes, nomeadamente o sentido de pertença e de identidade que estes incutem nos cidadãos, fazendo com que estes os valorizem e protejam.
Arouca tem inúmeras associações que trabalham para manter vivo o legado deixado pelos seus antepassados cuja vida está, maioritariamente, ligada ao trabalho da lavoura.
É neste contexto que surge o Grupo de Cantares de Santa Maria do Monte que trabalha os cantares recolhidos ao longo dos tempos por Virgílio Pereira e compilados num único volume em 1959, ao qual o autor deu o nome de "Cancioneiro de Arouca". Nesta recolha estão presentes cantares relacionados com o trabalho e a azáfama quotidiana da vida nas aldeias e com a religiosidade das gentes de outrora, a que o grupo dá, nobremente, som e ritmo. O grupo recorre ainda a outras fontes de transmissão oral que inclui depois no seu repertório.
Além disso tem a excelência de juntar várias gerações a cantar em uníssono, estando presentes avós, filhos e netos a evocar a memória coletiva, numa experiência única e enriquecedora.
O ditado diz que "quem canta seus males espanta" e a verdade é que alegria não falta aos cantadores e cantadeiras deste grupo, que são no total 35, com idades compreendidas entre os 18 e os 84 anos, a que se juntam algumas crianças em determinados eventos. O grupo tem colaborado de forma estreita em vários eventos organizados pela autarquia, como é exemplo o Encontro de Reizeiros, a Recriação Histórica e o Festival da Castanha, onde em outubro passado tiveram uma participação especial no concerto de Celina da Piedade.
Participaram ainda em alguns eventos da responsabilidade de outras associações do município como foi o caso do 2º Encontro de Vozes, em 2016, a convite do Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses. São presença assídua no Encontro de Janeiras promovido pelo Centro Cultural, Recreativo e Desportivo do Burgo e em abril de 2018 integraram o grupo da comunidade que concebeu um espetáculo para assinalar os "Dias do Património a Norte", uma organização da Direção Regional da Cultura do Norte.
Neste espetáculo que teve como objetivo promover a polifonia vocal da região, tiveram a companhia do Conjunto Etnográfico de Moldes, do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arouca, do Grupo Etnográfico de Danças e Cantares de Fermedo e Mato, do grupo da Comissão de Melhoramentos de Souto Redondo, do grupo informal de cantadeiras de Adaúfe (Moldes) e de participantes a título individual. Juntos, a uma só voz, promoveram um concerto memorável no Cadeiral do Mosteiro de Santa Maria de Arouca.
O associativismo tem um valor expressivo na formação da personalidade, sendo escola de cidadania e de proliferação de valores. Aliar o associativismo ao compromisso com o outro e ao lazer, e mais do que isso à cultura e à memória coletiva, mantendo-a viva e capaz de se perpetuar no tempo, constitui uma excelente forma de viver o património cultural, e neste caso intangível, que salvaguardado, honra a identidade e o legado deixado.
Através do passado temos conhecimento do presente e abrimos portas para o futuro.