Arouca (re)viveu a história do seu Mosteiro
"Atenção ó povo de Arouca. Arouqueses ou outros fregueses, arouquistas ou outros vigaristas, arouqueiros ou forasteiros, abeirande-vos, eu sou o pregoeiro que anuncia as efeméridas".
Assim começava o discurso do pregoeiro, montado no seu cavalo à entrada do Terreiro de Santa Mafalda. E anunciou, tal como prometera, tudo o que iria acontecer de 20 a 22 de julho na 12º edição da Recriação Histórica de Arouca.
Cerca de 300 figurantes trouxeram os séculos XVII, XVIII e XIX para o século XXI, fazendo com que fossem revividos episódios da vida monástica, das guerras liberais e do quotidiano dos arouquenses e dos que visitam Arouca nestes dias de festa.
O Regina Caeli ecoou no espaço de clausura, as monjas reuniram na sala do capítulo para tratar de assuntos delicados da vida eclesiástica e, no Coro das Freirasfoi realizado o escrutínio para a eleição da nova Abadessa, uma figura com um papel de enorme relevo e responsabilidade, dentro e fora das portas do Mosteiro.
As freiras caíram no silêncio da oração enquanto as noviças e as meninas de coro aprenderam a tocar, a cantar e a bordar e as moças mantiveram os espaços asseados e os desejos das suas superiores saciados.
Na cozinha preparavam-se as refeições, na botica organizavam-se as ervas e especiarias para fazer as mezinhas, na enfermaria assistiam-se as mais frágeis, no celeiro, a madre celeireira acompanhava a chegada de mantimentos, na lavandaria tratavam da roupa e na sala da cera faziam as velas para as procissões.
No exterior, a vila estava em festa com a chegada do dia de São Bernardo, a quem dedicaram a procissão.
Os bombos saíram à rua, a charamela tocou, as bandas entraram em despique, os grupos de cantares entoaram as suas vozes nas ruas da vila e os cramóis também se fizeram ouvir. Os atores contaram lendas em forma de teatro de qualidade, o vendedor da Banha da Cobra tentou enganar os mais débeis e os salteadores de estrada aproveitaram a chegada dos nobres para encherem os bolsos.
A Abadessa, recém-eleita, entregou as Varas do poder aos Homens que ocupavam os cargos municipais, sob o olhar atento dos soldados, do povo e das monjas.
Tendo sido, no entanto, esta cerimónia interrompida por Frei Simão de Vasconcelos, "Frade Guerrilheiro", que depois de um confronto com o capitão-mor do distrito militar de Arouca, Vaz Pinto, foi preso e escoltado para Lamego, onde veio a ser executado.
Contudo, o drama não terminou aqui. Quando, a 1 de novembro de 1755, os arouquenses se encontravam a assistir à missa do dia de Todos os Santos, fizeram-se sentir violentos abalos, oriundos do Terramoto com epicentro em Lisboa, provocando o pânico junto dos fiéis que, em desespero, imploravam o perdão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Valeram-lhes o Padre e a Abadessa que vieram ao seu encontro para os tranquilizar.
A morte da última freira, Dona Maria José Gouveia Tovar Melo e Meneses, em 1886 causou alguma discórdia no Cadeiral onde esta repousava para adoração antes do descanso eterno. Os padres não queriam que a última freira fosse sepultada no Capítulo, enquanto que o povo e as moças, no interior diziam que a irmã pertencia ao Mosteiro, pois foi lá que viveu 74 anos, 19 dos quais como Abadessa.
Fechadas as portas do tempo, torna-se imperativo glorificar todos os arouqueses envolvidos neste evento, sem eles, excelentes exemplos de audácia e talento e com uma enorme capacidade de querer fazer sempre mais e melhor, o sucesso deste evento não seria uma realidade tão evidente. Só eles sabem contar a história de Arouca e as estórias que Arouca tem para contar.