Afonso Gonçalves: pintura e colecionismo

27-06-2021

Em Arouca todos conhecem Afonso Gonçalves.

O gosto pela pintura começou desde cedo nas aulas de Educação Visual, era Afonso um jovem estudante da Escola Secundária de Arouca. Afonso é autodidata. Ao longo da sua vida foi pintando e expondo o que pintava. Foi descobrindo o seu talento e construindo a sua identidade artística e, mais tarde, a necessidade que sentiu de saber mais e de aprimorar técnicas, fizeram-no inscrever no Atelier de Luísa Pedrosa.

Foi lá e na Cooperativa Artistas de Gaia, do qual é Sócio Produtor, no Atelier Galeria José da Silva e no "Grupo Silvarte", que cresceu artisticamente ao trabalhar e ao partilhar experiências com os seus pares.

Afonso começou a expor com regularidade na década de 90. Desde então, nunca parou de o fazer e, entre individuais e coletivas, soma mais de meia centena de exposições por todo o país, sendo presença em várias coleções particulares.

Há uma história para contar sobre cada uma das exposições em que participou, de norte a sul do país. Contudo, é do Encontro Nacional de Pintores de Cavalete, em Espinho, que guarda as melhores memórias. Neste evento organizado pela Cooperativa Nascente podia pintar ao vivo, podendo mostrar a criação artística às pessoas que visitavam o espaço, falar com elas e explicar-lhes o significado das suas obras, numa lógica de descomplicação da arte e de aproximação do artista e do processo criativo ao público.

As suas obras contam-nos histórias e embora Afonso afirme que não há um propósito para pintar rostos, sorrisos, olhares penetrantes ou "a beleza do corpo feminino", a verdade é que os seus quadros prendem o olhar daqueles que têm o privilégio de os observar.

Em 2018, a vida de Afonso mudou completamente. Quando se preparava para ir para Leiria participar numa exposição, um Acidente Vascular Cerebral fê-lo parar.

Depois de mais de um ano de recuperação e impossibilitado de pintar com a mão, com que toda a vida foi colorindo telas e dando vida a uma imensidão de quadros, Afonso ainda pintou alguns quadros com a mão esquerda. Contudo, o seu perfecionismo fá-lo acreditar que o que faz agora não atinge os requisitos que o próprio estipulou. Além disso, confessa que já não tem a paciência que tinha.

No processo de recuperação, a arte assumiu uma dupla função. Por um lado, a vontade de continuar a pintar e voltar a expor dava-lhe algum alento e, por outro, o facto de se encontrar fisicamente debilitado para dar corpo à arte, desmotivava-o e afastava-o da criação artística.

Ainda internado e a recuperar, preparou uma exposição e já expões, por três vezes, após o AVC.

Mas não é só de tinta que se faz a arte do arouquense. Afonso recorre a vários materiais, desde tecidos, missangas e sobras de materiais, através dos quais vai levando ao limite a sua criatividade (aparentemente inesgotável). Quadros, candeeiros, espanta espíritos e "caçadores-de-sonhos" são algumas das obras que vai fazendo, numa lógica de "se der, deu". As feiras de velharias ajudaram nesta missão de recolha de materiais para produzir as suas obras.

O que poucos conhecem é a paixão de Afonso por budas. Em sua casa, o espaço começa a ser pouco para albergar tantos budas. De madeira, em ferro, grandes, pequenos e miniaturas. Afonso tem uma coleção imensamente grande, que conta já com mais de 700 budas. Quando, por um acaso, tem dois budas iguais, pinta um deles para ficarem diferentes.

Da loja de roupa de que foi proprietário, às exposições que foi promovendo, Afonso foi ainda coproprietário de uma discoteca e deu aulas de pintura, durante 7 anos, na Academia Sénior de Arouca (ASARC).

Nesta última, reinou, desde sempre, a vontade de partilhar, voluntariamente, a sua capacidade artística e resultou, em 2020, numa exposição na Biblioteca Municipal, em que os alunos de Afonso mostraram tudo aquilo que ele lhes ensinou, tendo os aprendizes surpreendido o mestre.

Em casa, lado a lado com os budas, o artista guarda mais de uma centena de quadros sobre as mais variadas temáticas, prontos a serem expostos. Afonso alberga em si uma enorme vontade de continuar este percurso artístico, apesar de todas as dificuldades de um longo processo de recuperação.

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