A Serração Vilar e Irmãos Lda.
A Serração Vilar e Irmãos, em Santo António, freguesia de Santa Eulália permanece, ainda hoje, na lembrança de muitos arouquenses.
A fábrica de Serração de Santo António, instalada no edifício em frente às bombas de gasolina, foi inicialmente Almeida Brito e Cª Lda., tendo passado a ser Vilar e Irmãos antes de 1960. Nessa altura, eram sócios da serração os 9 filhos de Benilde Vilar, de Jugueiros, embora Manuel, que se ocupava do trabalho mais burocrático e Ernesto e Vitorino, ativos no trabalho braçal, fossem os filhos que se dedicavam à Serração.
Empregava cerca de 14 pessoas, oriundas um pouco de toda a freguesia e das freguesias vizinhas que trabalhavam nas várias fases de tratamento da madeira. Este negócio consistia na compra de árvores aos proprietários de leiras de monte, o corte dessas mesmas árvores, o transporte para a fábrica, o tratamento da madeira e consequente transporte até ao consumidor final.
Na floresta, o trabalho era feito manualmente, desde o corte das árvores com recurso a machados e serrotes e o transporte da madeira, até à berma da estrada, era feito com auxílio de animais, nomeadamente carros de bois. Lá era carregada, a braços, para a camioneta que fazia o transporte para a fábrica.
Na serração, grandes troncos transformavam-se em tábuas para soalhos, em vigas, em caibros e algumas eram ainda trabalhadas em formato de caixas.
A Serração estava dividida em diferentes áreas, nomeadamente a caldeira, onde eram queimadas as cascas das árvores, servindo de "combustível" para as máquinas a vapor, a carpintaria, as serras e os chariots. As árvores eram descascadas, entravam para o charriot e depois eram cortadas sob indicação da necessidade do cliente.
Como este era um negócio de família, os trabalhadores além de laborarem na serração, colaboravam, por vezes nas atividades agrícolas e no alambique da "família de Jugueiros", como recorda Alberto Barbosa, um dos jovens que trabalhava na serração.
O edifício onde outrora funcionou esta indústria foi ocupado, anos depois, por uma oficina automóvel e, após algum tempo sem qualquer atividade, alberga agora uma "loja dos chineses".
A serração fechou portas quando já se podia gritar por liberdade, na década de 70.
Na memória fica quem arregaçou as mangas e trabalhou para sustentar a família, quem teve a audácia de abrir um negócio quando se vivia na escuridão e na miséria de um regime em que o homem saía para trabalhar, enquanto a mulher ficava a tomar conta da casa e dos filhos, suportando a máxima "Deus, Pátria e Família". Fica também na memória, a dedicação de todos os jovens que lá trabalharam, no duro trabalho da floresta, que exigia tanto do corpo como da alma.